Ancestralidade e distanciamento nas sonoridades de Tumbeiros

Tumbeiros, o novo espetáculo de Agulha Cenas, realizado com patrocínio do Banco da Amazônia e apoio da Universidade Federal do Tocantins, conta com direção musical e composições de Heitor Oliveira.

O título do trabalho remete aos navios que transportavam escravos africanos, entre os séculos XVI e XVIII. Sua temática, entretanto, vai além deste contexto histórico específico, evocando vários tipos de amarras sociais. Como já é característico do trabalho do coletivo Agulha Cenas, a proposta estética mescla movimento, textos e canções em uma linha narrativa tênue e lírica.

A estreia ocorre em curta temporada no Teatro Sesc Palmas nos dias 27, 28 e 29 de junho. As sessões serão sempre às 20h, com uma sessão extra, às 18h do dia 29.

Fabrício Ferreira em gravação de percussão para a trilha sonora do espetáculo Tumbeiros.

Trilha sonora

De acordo com o músico Heitor Oliveira, a trilha sonora do espetáculo contém "sonoridades de tambores e cantos que evocam a ancestralidade africana". Essas sonoridades dialogam com o contexto histórico dos tumbeiros, evocando memórias e narrativas de sofrimento e resistência.

     
Entretanto, "esse material sonoro identitário é inserido em um contexto de timbres e harmonias geradas ou processadas eletronicamente", explica Oliveira. O efeito expressivo é de distanciamento e as referências culturais são inseridas na construção estética do espetáculo, abrindo espaço para o deslocamento histórico da narrativa e para uma reflexão do espectador diante do que está sendo apresentado.

Processo criativo

O processo criativo da trilha sonora envolveu várias etapas e contribuições. Em um primeiro momento foram coletados materiais, como os textos e cantos criados por Fátima Salvador e melodias do compositor Heitor Oliveira. Em seguida, houve uma sessão de gravação de instrumentos de percussão, com a participação de Fabrício Ferreira e de Gustavo Henrique.

Reunidos esses materiais, o compositor iniciou a montagem das músicas instrumentais a serem utilizadas para acompanhamento das coreografias. Essas músicas passaram por várias revisões, a partir do processo de montagem e ensaios, adequando durações e texturas às movimentações e narrativas.

Também nos ensaios, houve o trabalho de preparação vocal do elenco para interpretação das canções e textos originais. O desafio de falar e cantar em um espetáculo com amplas exigências físicas coloca em cena um tipo específico de vocalidade e presença do artista da cena que tem sido objeto das investigações estéticas do coletivo Agulha Cenas.

A sonoridade do espetáculo é complementada com um pano de fundo sonoro contínuo, que evoca ventos ou ondas do mar. Assim, há três camadas sonoras que compõem a trilha sonora, cada uma com suas próprias funções expressivas: a sonoplastia proporciona ambientação, as músicas instrumentais delimitam as estruturas temporais e as vozes faladas e cantadas introduzem aspectos semânticos e narrativos.