Fátima Salvador cria textos e cantos para o espetáculo Tumbeiros, do coletivo Agulha Cenas

Foto: arquivo pessoal.

Fátima Salvador, atriz e escritora, criou textos e cantos para o espetáculo Tumbeiros, do coletivo Agulha Cenas. Construídos por meio de um processo criativo não-linear, resultam de uma reflexão sobre a vinda dos povos africanos para o Brasil, expandindo essa reflexão para o lugar do corpo no mundo, o que sentimos e como lidamos com o ódio, o desprezo e a incompreensão mútua.

Licenciada em Teatro pela Universidade Federal do Tocantins, Fátima atualmente está em Portugal, atuando junto ao GEFAC - Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra, que trabalha a partir da relação entre teatro e cultura popular.

Em seu trabalho de conclusão do curso de Teatro na UFT (2018), abordou as memórias narrativas na Comunidade Quilombola Kalunga do Mimoso-Albino, localizada entre os municípios de Arraias e Paranã-TO, região de onde é natural.

O trabalho percorre um caminho em que a história oral e a escrita criativa se cruzam, tendo a comunidade como cenário de narrativas que revelam parte da cultura e do cotidiano do Albino. A partir dessa experiência, Fátima afirma que "a concepção de identidade é algo dinâmico e não estático" e que "as narrativas superam o tempo e alcançam gerações futuras".

 Nos textos e cantos criados para o espetáculo Tumbeiros, Fátima retoma a temática da ancestralidade africana, empreendendo um mergulho imaginativo e criativo na dureza de um período histórico cruel e avassalador que, ao mesmo tempo, é marcado por um processo de resistência ainda vivo no dia a dia da sociedade e na criação artística. Parte-se da amargura de uma travessia dolorosa para galgar um caminho poético e espinhoso, na esperança de encontrar descanso, afago e cuidado do outro lado.

"Mandei, mandei, mandei voltar
O mar que não obedecia
Levava os parentes lá..."

(Refrão de um dos cantos do espetáculo Tumbeiros)